Fotos de mensagens através de aplicativo fazem parte das investigações contra a fonoaudióloga acusada de torturar crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em uma clínica particular em Duartina, no interior de São Paulo. Essas imagens estão inseridas no inquérito policial que investiga as denúncias contra a profissional. Numa delas é possível ler: “O [nome] cagou minha sala inteira. Filho da p***”, o demônio chegou, texto escrito pela fonoaudióloga.
De acordo com o G1, os documentos comprovam que a profissional usada de linguagem de baixo calão ao se referir às crianças. Além disso, fica evidente que ela tenta forjar os atendimentos. “Jesus, que o [nome] durma”, “9h e o chato do [nome]”, “O [nome] está insuportável”, “Demônio chegou para encher o saco” são exemplos de xingamentos emitidos pela fonoaudióloga nas mensagens.
Em outras mensagens no inquérito dá para identificar que a profissional não prestava o atendimento corretamente. “Dá uma disfarçada, sabe, finge que eu tô atendendo” e “Eu não vou à tarde para a clínica amiga, inventei para a [nome] que tenho reunião”.
A ex-funcionária, contratada como acompanhante de um dos meninos, foi quem denunciou a fonoaudióloga e registrou os atendimentos no celular. Ela disse que era instruída a forjar os atendimentos não realizados nas agendas das crianças. Durante o depoimento, o aparelho de telefone foi entregue para a polícia como prova e foi encaminhado para perícia. A ex-funcionária resolveu fazer a denúncia após presenciar uma das crianças recebendo um tapa. Em depoimento, ela afirmou também que os pacientes em cárcere, trancados em uma sala específica, chamada de “sala de luz”.
“As crianças não estavam tendo atendimento. A fonoaudióloga falava com as mães, mas as crianças ficavam na sala comigo, e eu estou cursando a psicologia, ainda não tenho esse repertório de fazer o tratamento adequado”, narrou a ex-funcionária.
“Quando presenciei a olho nu, eu falei para a minha chefe, a que havia me contratado como acompanhante, que não queria trabalhar mais lá. Ainda fiquei na clínica quase um mês para registrar esses momentos. O que eu presenciei nunca vou tirar da cabeça. Não tem sentimento pior. Fiz tudo pelas crianças”, concluiu.
“Nas conversas é possível ver ainda a preocupação da fonoaudióloga em mentir para os pais, visando esconder o que ocorria na clínica”, detalha o inquérito. A polícia também investiga a atuação da terapeuta ocupacional, que também teria ofendido as crianças e não prestava os atendimentos pagos pelas mães. “Se referiam às crianças com bastante deboche, ironia, demonstrando desinteresse profissional, o que confirma os crimes de estelionato e tortura, com intenção de causar sofrimento nos meninos ao colocá-los na área de luz”, aponta a investigação.
O delegado responsável pelo caso, Paulo Calil também disse que apura o crime de tortura, que, se comprovado, é inafiançável.
A defesa da fonoaudióloga disse, em nota, que colabora com as investigações policiais, mas que tem receio de represálias contra sua cliente.
“É necessário destacar que não houve ainda sequer a constituição formal de inquérito policial, de modo que todas as informações referentes às denúncias devem ser analisadas com cautela e prudência, tanto em respeito à pessoa das acusadas como às supostas vítimas. Todo o conteúdo até então reunido em investigação deverá ser confrontado com outros meios de prova, de modo que as informações existentes até então não indicam de forma cabal a ocorrência de qualquer ilícito. No momento oportuno, a verdade seja esclarecida a todas as partes interessadas no feito, visto que os documentos juntados até o momento nos autos não são suficientes para embasar as alegações”, diz o texto.
Por Kris Couto